quinta-feira, 27 de março de 2008

Sobre a apresentação do Teatro Mágico

O circo moderno d´O Teatro Mágico

Angélica Paulo, Agência JB

- Música, teatro, circo, poesia, sarau, reunião de amigos, interatividade. Quem pensa que reunir tudo isso num mesmo local requer um grande aparato técnico e um sem-número de pessoas, ao mesmo tempo errou e acertou. Errou, porque os elementos descritos anteriormente só requerem um pequeno palco, um teto, um trapézio e alguns instrumentos musicais. E acertou, porque o número de pessoas envolvidas é realmente grande, mais de 20, das mais diversas origens, gostos e especialidades. Tudo isso numa bagunça organizada que atende pelo nome de O Teatro Mágico.

A trupe (como eles mesmos preferem se auto-denominar) comandada pelo músico paulista Fernando Anitelli e que é formado por 13 pessoas, incluindo músicos e artistas circenses, representa bem o conceito de tudo-misturado-de-forma-organizada. Reúne elementos de circo, teatro, música e poesia, numa babel de estilos harmonicamente sintonizados.

Anitelli funciona como uma espécie de maestro, coordenando o espetáculo para que tudo saia perfeito. E, apesar dos elementos cênicos variarem entre simples brinquedos de pelúcia, tecidos, bolhas de sabão e malabares, nas grandes apresentações há espaço também para um piano de cauda – tocado por Fernando Anitelli – além de trapézios. Enquanto, no palco, os músicos executam melodias que já caíram no gosto dos extasiados fãs, a metade circense do Teatro evolui pelos ares, deixando a platéia um pouco tonta, sem saber para onde olhar.

Mas quem acha que esse conceito de banda+teatro+circo é algo inovador, engana-se. Livremente inspirado na Comédia Dell'Arte, forma teatral desenvolvida na Itália do século XVI e que se caracterizava pela mistura de vários elementos cênicos como música, poesia, dança e muito improviso, além da utilização de máscaras, O Teatro Mágico não é o único se inspirar nesse tipo de movimento artístico. Bandas como O Cordel do Fogo Encantado, Mombojó e Móveis Coloniais de Aracaju também fazem da mistura sua marca. A grande diferença é que enquanto os dois últimos primam pela união de ritmos rebuscados, o TM faz justamente o contrário, optando por melodias ricas e simples, deixando que as apresentações teatrais-circenses sejam o diferencial em suas apresentações.

Caracterizados como palhaços (um dos principais passatempos dos fãs é tentar adivinhar como são os artistas sem maquiagem), a trupe optou por trilhar o caminho inverso da grande maioria dos artistas. Se hoje, com o declínio da indústria fonográfica, cantores e bandas preferem deixar a segurança (e a falta de liberdade) das gravadoras, depois de anos de contrato, e lançar seus CDs por selos independentes, como é o caso de Paulinho Moska, Djavan, Luciana Mello, entre outros, o Teatro foi mais fundo.

Seu primeiro – e até agora único – trabalho, “Entrada para Raros” foi lançado sem ter nem mesmo um selo e, além disso, totalmente disponibilizado para download em seu site na internet (www.oteatromagico.mus.br). Para muitos pode ser uma atitude exagerada levantar esse tipo de bandeira, mas a estratégia deu certo. Totalmente no boca-a-boca, o CD já vendeu nada mais, nada menos do que 40 mil cópias. Possuem ainda comunidades no orkut, onde 120 mil fãs comprovam a popularidade de Anitelli e cia.

No início da vida artística, há mais ou menos quatro anos, eram apenas um grupo de amigos de Osasco que fazia shows em casas do circuito alternativo de São Paulo e adjacências. Hoje, a terra da garoa já deixou de ser a única a presenciar os espetáculos e vê seus filhos famosos se apresentarem para milhares, em diversos estados do país.

Ao Rio vieram quatro vezes, sendo a última apresentação no Circo Voador, onde conseguiram o que muitos artistas veteranos almejam sem sucesso: atrair duas mil pessoas, muitas delas caracterizadas como palhaços, que consomem os produtos da grife TM (camisetas, maquiagens e apetrechos circenses, CDs E DVDs), transfomando a trupe numa febre que atrai caravanas de outros estados, além de transformar meros desconhecidos em amigos de infância.

É o caso de Pedro Santos Nepomuceno, 17 anos, que conheceu os integrantes d´O Teatro Mágico através da irmã, Alessandra, de 22 anos, e se encantou. Fuçou na internet, descobriu diversas comunidades no orkut e ali fez amigos dos mais diversos. Aventureiro, resolveu conferir o show da trupe em São Paulo, mesmo sem conhecer ninguém no local, a não ser os amigos virtuais. Hospedou-se na casa de um deles, seu xará Pedro de Almeida e foi adotado pela família do paulistano.

- Nunca pensei que isso pudesse acontecer. Ganhei um irmão e uma segunda família. É por isso que eu amo o TM. Eles conseguem unir música, poesia, teatro e ainda nos proporciona encontros maravilhosos, com pessoas incríveis – revela.

E pelo que demonstram Pedro e outros jovens e adultos fãs do profeta Anitelli, a febre do Teatro Mágico só tende a aumentar. Se levarão à frente a bandeira de artistas independentes sem se deixarem seduzir pelos atrativos da grande indústria, só o tempo dirá. Enquanto isso, camarada, é ouvir e se deixar levar por estes palhaços modernos. Senhoras e senhores, o circo chegou!

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