
Essa matéria saiu na Revista In SP, pra conhecer um pouco mais do Teatro Mágico
Tudo numa coisa só
Unir os diversos tipos de arte e transfornar o Brasil em um sarau amplificado estão entre os objetivos do Teatro Mágico, projeto que completou quatro anos. Os versos das canções dessa trupe são inusitados, a exemplo do título desta matéria
Apesar do som não tocar nas rádios comerciais, do cd e do dvd não serem vendidos em grandes magazines e dos shows não se realizarem em famosas casas de espetáculos, é fácil encontrar jovens que circulam pelas ruas, seja da capital ou de outros Estados, com camisetas onde se lê “amanheça brilhando mais forte”, “só para raros”, “os opostos se distraem e os dispostos se atraem” ou “só enquanto eu respirar vou me lembrar de você”, frases das músicas do primeiro disco do projeto que virou fenômeno no cenário musical alternativo brasileiro, O Teatro Mágico.
Ao som da mensagem “Senhoras e senhores, respeitável público pagão, bem-vindos ao Teatro Mágico, sintam-se à vontade” e um jogo de luzes e imagens que clareia o palco surge, segundos depois, uma trupe de palhaços propondo ao público, que chega às apresentações muitas vezes igualmente caracterizado, usando, por exemplo, narizes vermelhos, que liberem-se de quaisquer estigmas e mergulhem no universo de um enorme sarau, que mistura poesia, artes circenses, música e teatro. À frente do grupo está o músico e compositor Fernando Anitelli, que apresenta o trabalho. Natural de Presidente Prudente, mas criado em Osasco, Anitelli, 33, idealizou o grupo quando estava nos EUA. Foi nesta circunstância, quando leu o livro “O Lobo da Estepe”, de Herman Hesse, que ‘abocanhou’ a idéia do título do primeiro cd, “Entrada para Raros”. “Nosso esforço é independente; trabalhei um ano sozinho para concretizar esta primeira parte de três a que o Teatro Mágico se propõe, porque a idéia é seguir a tendência de que muitas coisas que se vê nas artes vêm em trilogia, e eu busco essa conotação, essa idéia de seqüência, ligação e amadurecimento. Fazer arte em nosso País é uma ‘guerra’ constante, ainda mais independente. Produzir, ensaiar, divulgar... é um trabalho árduo, mas nunca podemos esquecer de fazer uma reciclagem natural, para que dessas misturas saiam mensagens interessantes; essa é a nossa proposta”, diz o músico.
E os números evidenciam o positivismo desse contexto. O grupo já contabiliza 70 mil cópias vendidas do cd (angariados a R$ 5 cada na loja própria do grupo, onde também são encontrados o dvd, as camisetas e os adesivos); 120 mil visitas diárias ao site; 75 mil participantes na comunidade oficial no Orkut; 5 mil pessoas no show de comemoração dos quatro anos de sucesso e um público recorde de 40 mil pessoas no show da Virada Cultural, em São Paulo. “Ali chorei barbaridade, foi a vitória da arte independente”, completa Anitelli. Além disso, o Teatro Mágico recebeu o título de melhor show nacional de 2007, eleito pelo Guia da Folha de São Paulo.
Pirataria saudável
Anitelli atribui ao boca-a-boca e à difusão da internet o sucesso do grupo, inclusive defendendo o que ele intitula de ‘pirataria saudável’. “Durante mais de 20 anos o artista ficou dependente de rádios, gravadoras, contratos, conchavos, jabás... chega disso! Com o avanço da tecnologia nós temos uma ferramenta fantástica que é a internet, capaz de fazer escoar para o mundo uma cultura. Por meio de blogs, fotologs, faculdades e centros culturais cria-se um circuito alternativo paralelo ao que é feito por essas gravadoras, e as pessoas podem conhecer uma nova arte. Assim conquistamos um público e também vendemos o cd a um preço acessível.
Agora, se a pessoa não tem R$ 5 para comprar, pode piratear, é uma pirataria saudável, inteligente, copiar para ter acesso à informação, porque quem tem informação tem poder e não fica à mercê do mundo”, afirma o compositor, que completa: “Quem nunca teve a sua fita K7 com as músicas que gostava e copiava dos outros? Acontece que hoje a tecnologia evoluiu de tal maneira que você consegue gravar as músicas do artista que gosta com uma qualidade muito boa. O erro está em regravar para revender, para consumir não!”. As músicas da trupe estão disponíveis para download no site www.otea tromagico.mus.br.
O grupo conta atualmente com nove músicos, quatro artistas circenses e Anitelli. O segundo cd, intitulado “Segundo Ato”, sai este ano, quem sabe ainda no primeiro semestre, e a ansiedade toma conta dos fãs, que podem esperar para daqui aproximadamente dois anos o terceiro e, provavelmente, último. Mas o clima não é, nem deve ser, de despedida, pois um retorno não é descartado. “Música é atemporal, ela não acaba, se transforma. É certo que quando uma canção é lançada ela nos toca de uma maneira, e depois de outras, pois rememoramos. É isso que queremos com o TM, que a mensagem marque e transforme o pensamento das pessoas em relação à arte”, finaliza Anitelli.
Nenhum comentário:
Postar um comentário