quarta-feira, 26 de março de 2008

Um pouco mais de Teatro Mágico



Essa matéria saiu na Revista In SP, pra conhecer um pouco mais do Teatro Mágico

Tudo numa coisa só

Unir os diversos tipos de arte e transfornar o Brasil em um sarau amplificado estão entre os objetivos do Teatro Mágico, projeto que completou quatro anos. Os versos das canções dessa trupe são inusitados, a exemplo do título desta matéria

Apesar do som não tocar nas rádios comerciais, do cd e do dvd não serem vendidos em grandes magazines e dos shows não se realizarem em famosas casas de espetáculos, é fácil encontrar jovens que circulam pelas ruas, seja da capital ou de outros Estados, com camisetas onde se lê “amanheça brilhando mais forte”, “só para raros”, “os opostos se distraem e os dispostos se atraem” ou “só enquanto eu respirar vou me lembrar de você”, frases das músicas do primeiro disco do projeto que virou fenômeno no cenário musical alternativo brasileiro, O Teatro Mágico.

Ao som da mensagem “Senhoras e senhores, respeitável público pagão, bem-vindos ao Teatro Mágico, sintam-se à vontade” e um jogo de luzes e imagens que clareia o palco surge, segundos depois, uma trupe de palhaços propondo ao público, que chega às apresentações muitas vezes igualmente caracterizado, usando, por exemplo, narizes vermelhos, que liberem-se de quaisquer estigmas e mergulhem no universo de um enorme sarau, que mistura poesia, artes circenses, música e teatro. À frente do grupo está o músico e compositor Fernando Anitelli, que apresenta o trabalho. Natural de Presidente Prudente, mas criado em Osasco, Anitelli, 33, idealizou o grupo quando estava nos EUA. Foi nesta circunstância, quando leu o livro “O Lobo da Estepe”, de Herman Hesse, que ‘abocanhou’ a idéia do título do primeiro cd, “Entrada para Raros”. “Nosso esforço é independente; trabalhei um ano sozinho para concretizar esta primeira parte de três a que o Teatro Mágico se propõe, porque a idéia é seguir a tendência de que muitas coisas que se vê nas artes vêm em trilogia, e eu busco essa conotação, essa idéia de seqüência, ligação e amadurecimento. Fazer arte em nosso País é uma ‘guerra’ constante, ainda mais independente. Produzir, ensaiar, divulgar... é um trabalho árduo, mas nunca podemos esquecer de fazer uma reciclagem natural, para que dessas misturas saiam mensagens interessantes; essa é a nossa proposta”, diz o músico.

E os números evidenciam o positivismo desse contexto. O grupo já contabiliza 70 mil cópias vendidas do cd (angariados a R$ 5 cada na loja própria do grupo, onde também são encontrados o dvd, as camisetas e os adesivos); 120 mil visitas diárias ao site; 75 mil participantes na comunidade oficial no Orkut; 5 mil pessoas no show de comemoração dos quatro anos de sucesso e um público recorde de 40 mil pessoas no show da Virada Cultural, em São Paulo. “Ali chorei barbaridade, foi a vitória da arte independente”, completa Anitelli. Além disso, o Teatro Mágico recebeu o título de melhor show nacional de 2007, eleito pelo Guia da Folha de São Paulo.

Pirataria saudável

Anitelli atribui ao boca-a-boca e à difusão da internet o sucesso do grupo, inclusive defendendo o que ele intitula de ‘pirataria saudável’. “Durante mais de 20 anos o artista ficou dependente de rádios, gravadoras, contratos, conchavos, jabás... chega disso! Com o avanço da tecnologia nós temos uma ferramenta fantástica que é a internet, capaz de fazer escoar para o mundo uma cultura. Por meio de blogs, fotologs, faculdades e centros culturais cria-se um circuito alternativo paralelo ao que é feito por essas gravadoras, e as pessoas podem conhecer uma nova arte. Assim conquistamos um público e também vendemos o cd a um preço acessível.

Agora, se a pessoa não tem R$ 5 para comprar, pode piratear, é uma pirataria saudável, inteligente, copiar para ter acesso à informação, porque quem tem informação tem poder e não fica à mercê do mundo”, afirma o compositor, que completa: “Quem nunca teve a sua fita K7 com as músicas que gostava e copiava dos outros? Acontece que hoje a tecnologia evoluiu de tal maneira que você consegue gravar as músicas do artista que gosta com uma qualidade muito boa. O erro está em regravar para revender, para consumir não!”. As músicas da trupe estão disponíveis para download no site www.otea tromagico.mus.br.

O grupo conta atualmente com nove músicos, quatro artistas circenses e Anitelli. O segundo cd, intitulado “Segundo Ato”, sai este ano, quem sabe ainda no primeiro semestre, e a ansiedade toma conta dos fãs, que podem esperar para daqui aproximadamente dois anos o terceiro e, provavelmente, último. Mas o clima não é, nem deve ser, de despedida, pois um retorno não é descartado. “Música é atemporal, ela não acaba, se transforma. É certo que quando uma canção é lançada ela nos toca de uma maneira, e depois de outras, pois rememoramos. É isso que queremos com o TM, que a mensagem marque e transforme o pensamento das pessoas em relação à arte”, finaliza Anitelli.

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